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Durante anos, um conceito ganhou o status de “bíblia” no mundo dos negócios: a estratégia do Oceano Azul. O livro de W. Chan Kim e Renée Mauborgne, Blue Ocean Strategy, foi traduzido para dezenas de idiomas, virou referência em MBAs e foi citado em incontáveis palestras e consultorias. A mensagem central é sedutora: evite a concorrência, fuja dos mercados saturados, não dispute espaço onde todos já brigam. Vá além. Crie um mercado novo, um espaço inexplorado, onde você possa navegar sem sangue na água.

Na teoria, soa perfeito. Quem não gostaria de encontrar um mercado virgem, sem rivais, com consumidores ávidos por algo totalmente inédito? É o sonho de qualquer empreendedor. É o romance do Oceano Azul.

Mas na prática, a realidade raramente é tão limpa. Os grandes negócios do mundo não nasceram em mares intocados. Eles floresceram justamente em ambientes de disputa, no Oceano Vermelho, aquele onde já existem concorrentes, margens pressionadas, consumidores exigentes e players consolidados brigando por cada centímetro.

E é aí que está a provocação. Se o Oceano Azul representa a inspiração, o Oceano Vermelho representa a realidade. E a realidade, quase sempre, vence.

Um bom negócio dentro do Oceano Vermelho precisa se sustentar em quatro fundamentos simples.

Primeiro: mercado massivo. Sem um público grande, não há como escalar.

Segundo: players consolidados. A presença deles é prova de que existe demanda real, e também significa que o trabalho de educar o mercado já foi feito.

Terceiro: solução inteligente. Não precisa reinventar a roda, mas precisa entregar de forma mais eficaz, mais simples ou mais atraente.

Quarto: problema real. Sem dor genuína, sem necessidade concreta, qualquer ideia se transforma em hobby caro.

Não é tão glamouroso quanto a promessa de inventar o próximo Uber ou o próximo Facebook, mas é muito mais sólido. Tanto que boa parte das startups que quebram sucumbe justamente por ignorar esse princípio: se apaixonam pela solução, mas esquecem de validar se existe mesmo um problema forte a ser resolvido. Criam produtos incríveis que ninguém precisa.

Já quando se entra num mercado consolidado, a dinâmica é outra. O cliente já reconhece a dor. O dinheiro já circula ali. A briga existe, sim, mas quem chega com foco e diferenciação tem espaço para crescer rápido.

E aqui entra o contraste interessante com a proposta de Kim e Mauborgne. O Blue Ocean Strategy prega a fuga: “não lute onde há sangue, crie um novo oceano”. Só que, se isso inspira executivos a pensar em diferenciação, também cria a ilusão de que o Oceano Vermelho deve ser evitado a qualquer custo.

E eu discordo. O Oceano Vermelho não é um lugar a ser evitado. É o lugar onde o jogo acontece de verdade. É ali que estão os clientes, a demanda, o fluxo de dinheiro. O que diferencia vencedores de perdedores não é fugir da disputa, mas como você decide competir dentro dela.

Esse raciocínio se aplica também ao mundo dos investimentos. O investidor seduzido pelo “Oceano Azul” é aquele que busca o ativo exótico, a oportunidade que ninguém mais viu, o foguete que promete retornos milagrosos. Mas, na vida real, quem constrói patrimônio de forma consistente olha para mercados consolidados, ativos líquidos, setores já educados. Vale mais ter estratégia clara dentro do que já existe do que fugir da concorrência.

Na vida pessoal, o paralelo também se sustenta. Quem vive em busca de atalhos mágicos está sempre tentando encontrar o seu “Oceano Azul”: a dieta milagrosa, o método secreto de produtividade, a fórmula mágica de enriquecimento. O problema é que, fora dos livros e das palestras, a vida acontece no Oceano Vermelho: disciplina, repetição, obstáculos, concorrência. É lá que construímos consistência. É lá que mostramos de verdade quem somos.

Blue Ocean Strategy continua sendo uma obra importante. Ela nos lembra da importância de inovar, de criar valor, de buscar diferenciação. Mas talvez a maior provocação seja entender que o Oceano Azul é exceção, não regra. Para a maioria dos negócios, dos investidores e das pessoas, o campo de batalha é o Oceano Vermelho.

E não há nada de errado nisso. Pelo contrário. É nesse oceano disputado que surgem as histórias mais sólidas, os modelos de negócio mais eficientes e os patrimônios mais consistentes. Navegar ali não exige romantismo. Só clareza, foco e coragem.

Talvez não seja tão inspirador quanto o sonho de criar um mercado inteiro do zero. Mas é muito mais real. E, no fim, é o real que sustenta a vida, os negócios e os investimentos no longo prazo.

Até a próxima,

Gus

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🎧 Ouvindo:

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  Manter o foco pode ser uma tarefa difícil. Com tantas distrações, é sempre bom lembrar o quão clara e precisa é a música clássica. Suas melodias se tornam um aliado decisivo para manter a atenção nas tarefas, sejam elas ler, escrever, cozinhar, estudar ou trabalhar.