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Aprenda a aprender de verdade
Vida & Lucros | Edição #022
No geral, sempre fui um cara meio nerd para estudos, principalmente quando queria ou precisava.
Quem fez faculdade de zootecnia na UFPR comigo pode achar que não é verdade — afinal, reprovei 13 vezes durante os quase 6 anos que passei lá.
Pois é, foi uma mancha no meu currículo acadêmico, mas acredite você ou não, de certa forma eu sabia o que estava (e o que não estava) fazendo.
Só que nem sempre foi ruim assim.
Depois de me formar em zootecnia, me tornei também economista.
Na faculdade de economia, fui sempre um dos melhores alunos da turma.
Num passado remoto, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, época do ensino fundamental e médio, me lembro que sempre que eu precisava estudar para alguma prova, passava um bom tempo no meu quarto tentando aprender o conteúdo.
Na sequência, chamava minha mãe e ou minha irmã para contar a elas o que havia aprendido e ver se eu realmente havia assimilado.
(É bem verdade que, depois que cresci, parei com essa prática por vergonha, preguiça ou por achar que não precisava mais disso para aprender algo — "errei, fui muleke").
Eu não sabia, mas estava praticando uma técnica de aprendizado muito famosa e que já era extremamente difundida no mundo todo.
O problema é que, de tão simples, ela não era valorizada.
Qual era essa técnica?
É o que você vai aprender e aplicar nessa edição da Vida & Lucros.
A técnica simples para aprender qualquer coisa
O físico e vencedor do Prêmio Nobel, Richard Feynman, uma vez disse: "O que eu não consigo criar, eu não entendo".
Essa citação reflete a essência de um dos métodos de aprendizado mais eficazes e subestimados, que leva o nome do próprio Feynman.
Richard Feynman
Em um mundo onde a quantidade de informação disponível é avassaladora e a capacidade de absorvê-la de forma eficiente é crucial, o Método Feynman surge como uma ferramenta poderosa para quem deseja não apenas aprender, mas também dominar novos conceitos e aplicá-los de maneira prática.
O Método Feynman foi desenvolvido para ajudar ele mesmo a entender profundamente conceitos complexos de física, mas sua aplicabilidade vai muito além dos limites acadêmicos.
Feynman era conhecido por sua habilidade em explicar conceitos difíceis de maneira clara e acessível, e desenvolveu esse método como uma maneira de garantir que ele realmente compreendia os assuntos que estudava.
A beleza do Método Feynman reside na sua simplicidade e no foco em uma compreensão genuína e duradoura.
Ele pode ser utilizado em diversas áreas do conhecimento, e, em particular, pode ser uma grande alavanca para aumentar a produtividade e o sucesso em áreas críticas como investimentos e construção de patrimônio.
Por focar na simplificação e na clareza do entendimento, o Método Feynman ajuda a transformar informações complicadas em conhecimento útil e aplicável, permitindo que as pessoas tomem decisões mais informadas e, consequentemente, mais eficazes.
Os 4 passos do Método Feynman
O Método Feynman é uma técnica estruturada que ajuda a aprofundar o entendimento de qualquer conceito através de quatro passos principais.
O objetivo principal é assegurar que você possa explicar o conceito estudado de maneira clara e simples, como se estivesse ensinando a uma criança ou a alguém sem qualquer conhecimento prévio sobre o assunto.
O método é composto por 4 passos que, de tão simples, parecem mentira, bobeira mesmo.
São eles:
1. Escolha um assunto para estudar;
2. Ensine o assunto de forma simples, como se fosse para uma criança;
3. Identifique as lacunas do seu conhecimento em relação a esse assunto;
4. Revise e simplifique.
Aí, é só repetir o processo a partir do passo 2.
É só isso?
Sim.
Só isso mesmo; é sério.
Mas, deixa eu te explicar melhor cada um dos passos.
Passo 1: Escolha um assunto para estudar
O primeiro passo é selecionar o tópico que você deseja aprender.
Pode ser um conceito, uma ideia ou uma teoria que você ainda não compreende completamente.
De preferência, a escolha desse tópico deve ser algo que você considera importante ou relevante para seus objetivos, seja no contexto acadêmico, profissional ou pessoal.
Passo 2: Ensine o conceito como se fosse para uma criança
O segundo passo, e talvez o mais importante, é tentar explicar o conceito que você escolheu como se estivesse ensinando a uma criança de 12 anos.
Use uma linguagem simples e evite jargões técnicos.
Ao fazer isso, você força a si mesmo a quebrar o conceito em partes mais simples e acessíveis, o que revela o verdadeiro nível de compreensão que você tem sobre o assunto.
Passo 3: Identifique suas lacunas de conhecimento sobre o assunto
Enquanto você tenta explicar o conceito de maneira simples, inevitavelmente encontrará partes que não consegue explicar bem ou que parecem confusas.
Essas são as lacunas em seu conhecimento.
Identificá-las é fundamental, pois aponta exatamente onde você precisa focar seus estudos adicionais.
Essa etapa envolve voltar às fontes de aprendizado, pesquisar mais sobre os pontos confusos e preencher essas lacunas.
Passo 4: Revise, simplifique e repita o processo
Depois de identificar as lacunas e aprofundar seu entendimento, revise o conceito novamente, simplificando ainda mais a explicação.
Repita o processo até que você consiga explicar o conceito de maneira clara e concisa, sem encontrar dificuldades.
A repetição deste ciclo garante que o conhecimento seja consolidado de maneira robusta e aplicável.
Vantagens do Método Feynman
O Método Feynman oferece várias vantagens em comparação com outras técnicas de aprendizado.
Primeiro, ele traz uma compreensão genuína e evita a memorização superficial, o famoso "decoreba".
Quando você consegue explicar algo de forma simples, isso indica que você realmente internalizou o conhecimento.
Em segundo lugar, o método melhora a retenção a longo prazo, pois a explicação ativa envolve diversas áreas cognitivas que facilitam o aprendizado.
Além disso, ele torna o aprendizado ativo, ao invés de passivo, porque foca na aplicação prática do conhecimento.
Em resumo, o Método Feynman é uma ferramenta para qualquer pessoa que deseja não apenas aprender, mas dominar um conceito.
Um exemplo genérico
Vamos pegar como exemplo um executivo que precisa se familiarizar rapidamente com um novo setor de mercado, como tecnologia emergente em inteligência artificial.
Em vez de simplesmente ler relatórios extensos ou assistir a tutoriais complicados, ele poderia aplicar o Método Feynman para absorver o conteúdo de forma mais produtiva.
1. Escolha de um tópico: O executivo decide entender o impacto da IA na automação de processos industriais.
2. Explicação simples: Ele tenta explicar o conceito para uma criança, utilizando exemplos simples, como "a IA é como um robô que aprende sozinho a fazer o trabalho que as pessoas fazem".
3. Identificação de lacunas: Durante a explicação, ele percebe que não compreende completamente como a IA decide quais processos automatizar, o que revela uma lacuna em seu conhecimento.
4. Revisão e simplificação: O executivo então volta para suas fontes, foca especificamente em aprender sobre algoritmos de aprendizado de máquina aplicados à automação, e refina sua explicação para algo como:
"A IA aprende observando muitas vezes como uma tarefa é feita, e depois cria seu próprio jeito de fazer a tarefa, às vezes até melhor do que uma pessoa faria".
Seguindo esses passos, o executivo aprende mais rapidamente e está mais preparado para aplicar o conhecimento na prática, seja para tomar decisões de negócios, seja para discutir as tendências do setor com clientes.
Como usar o Método Feynman para aprender sobre investimentos
O mundo dos investimentos pode parecer intimidador especialmente devido à complexidade dos conceitos financeiros, à sopa de letrinhas dos produtos e à abundância de informações disponíveis.
No entanto, o Método Feynman pode ser uma ótima ferramenta para desmistificar esses conceitos e ajudar você a entender profundamente como funcionam, permitindo que tome decisões mais informadas e confiantes.
Veja alguns exemplos práticos de como aplicar o Método Feynman para ficar mais inteligente com seus investimentos.
Exemplo 1: Diversificação de portfólio
A diversificação é um dos princípios mais importantes nos investimentos, pois envolve a distribuição dos seus investimentos em diferentes ativos para reduzir o risco.
No entanto, a simples menção da palavra "diversificação" pode fazer com que muitos se sintam perdidos.
Por isso, vamos aos 4 passos poderosos do método!
1. Escolha de um tópico: Diversificação de portfólio.
2. Explicação simples: Imagine que você tem uma cesta cheia de ovos e decide carregá-los todos de uma vez. Se você tropeçar e a cesta cair, todos os ovos podem quebrar. Diversificar seu portfólio é como colocar esses ovos em cestas diferentes, de modo que, se uma cesta cair, você ainda terá alguns ovos intactos nas outras.
3. Identificação de lacunas: Ao tentar explicar a diversificação dessa maneira, você pode perceber que ainda não entende completamente como a diversificação realmente minimiza o risco em diferentes cenários de mercado. Isso levanta perguntas importantes: Quais tipos de ativos devo escolher para diversificar eficazmente? Como o comportamento dos ativos se correlaciona durante crises econômicas?
4. Revisão e simplificação: Identificando essas lacunas, você pode aprofundar seu estudo sobre correlação de ativos, classes de investimentos (como ações, renda fixa, fundos imobiliários, investimentos internacionais, etc.) e o impacto de diferentes eventos econômicos. Com esse novo entendimento, refine sua explicação:
“Diversificação é como ter uma variedade de plantas em seu jardim; se uma praga afetar um tipo de planta, você ainda terá outras florescendo.”
Aplicar isso no mercado atual significa entender que não é apenas distribuir seus investimentos, mas também escolher ativos que reagem de maneiras diferentes às mesmas condições econômicas, minimizando o risco geral.
Exemplo 2: Equilíbrio entre risco e retorno
Risco se refere à possibilidade de perder dinheiro em um investimento, enquanto retorno é o ganho potencial.
Em geral, a teoria diz que quanto maior o risco, maior o retorno potencial, e vice-versa.
Bora para os 4 passos!
1. Escolha de um tópico: Equilíbrio entre risco e retorno.
2. Explicação simples: Considere o risco e o retorno como dois lados de uma balança. Imagine que você está decidindo entre emprestar dinheiro a dois amigos. Um é muito confiável, mas oferece um pequeno retorno (como 5% ao ano). O outro é menos confiável, mas oferece um retorno maior (15% ao ano). O risco aqui é a possibilidade de não receber seu dinheiro de volta, e o retorno é a compensação que você recebe por assumir esse risco.
3. Identificação de lacunas: A explicação acima pode ser suficiente para compreender o conceito básico, mas pode levantar perguntas sobre como medir o risco de maneira prática ou como diferentes investimentos se comparam em termos de risco e retorno. Por exemplo, como você pode avaliar o risco de um fundo de ações em comparação a comprar um ETF ou mesmo ações individuais? Ou como o risco é afetado por fatores econômicos globais?
4. Revisão e simplificação: Para preencher essas lacunas, você precisará estudar métricas como o desvio padrão (que mede a volatilidade) e o beta (que mede a sensibilidade de um ativo em relação ao mercado). Após esse estudo, você pode simplificar sua explicação:
"Avaliar risco e retorno é como escolher uma rota de viagem: uma estrada pode ser rápida, mas cheia de curvas perigosas (alto retorno, alto risco), enquanto outra pode ser mais lenta, mas mais segura (baixo retorno, baixo risco). Sua escolha depende do quanto você está disposto a arriscar pelo tempo economizado.”
Aplicando isso aos investimentos, significa equilibrar seu portfólio com ativos de diferentes perfis de risco para alcançar o retorno desejado sem assumir riscos excessivos.
Exemplo 3: Tomada de decisão com base em dados
Investir com base em dados minimiza os erros e maximiza os retornos.
Tomar decisões baseadas em dados significa confiar em análises quantitativas e qualitativas ao invés de instintos ou especulações.
Neste exemplo, os passos do método podem ser construídos da seguinte forma:
1. Escolha de um tópico: Uso de dados para tomar decisões de investimento informadas.
2. Explicação simples: Imagine que você está escolhendo entre dois brinquedos para comprar. Você pode escolher apenas olhando para eles, mas se souber o que outros pais disseram sobre os brinquedos (dados), poderá tomar uma decisão mais informada sobre qual é mais durável e interessante.
3. Identificação de lacunas: Embora essa analogia ajude a entender o conceito, pode não cobrir as nuances de como interpretar diferentes tipos de dados financeiros, como balanços patrimoniais, índices financeiros e tendências de mercado. Como você determina quais dados são realmente relevantes? E como interpreta dados conflitantes?
4. Revisão e simplificação: Para preencher essa lacuna, você pode se aprofundar em análise financeira, aprendendo a interpretar relatórios de empresas e usar indicadores como o Price-to-Earnings (P/E) ratio ou o Dividend Yield. Após esse estudo, simplifique sua explicação:
"Investir com base em dados é como planejar uma viagem consultando não apenas o mapa, mas também verificando as condições climáticas, avaliações de estradas, e opiniões de viajantes. Isso permite que você escolha a melhor rota com base em informações completas.”
No contexto de investimentos, isso significa usar dados financeiros de maneira estratégica para escolher onde investir e quando fazer ajustes no portfólio.
Exemplo 4: Juros compostos
Juros compostos é um dos conceitos mais importantes na construção de patrimônio.
É um princípio fundamental que permite que seu dinheiro cresça exponencialmente ao longo do tempo, desde que reinvestido e deixado a render.
1. Escolha de um tópico: Juros compostos.
2. Explicação simples: Imagine que você tem um cofrinho onde coloca moedas todos os dias. Se cada moeda que você coloca hoje "gera" mais moedas amanhã, graças aos juros compostos, você terá muito mais moedas em pouco tempo. Essa é a essência dos juros compostos.
3. Identificação de lacunas: Estudando os juros compostos, você pode descobrir lacunas no seu entendimento, como o impacto de diferentes taxas de juros ou como o tempo influencia o crescimento do patrimônio.
4. Revisão e simplificação: Após identificar as lacunas, revise os conceitos e crie uma explicação ainda mais clara e simples. Por exemplo, ao entender que o tempo é o fator mais determinante nos juros compostos, você pode aplicar isso para escolher investimentos que beneficiem seu crescimento patrimonial a longo prazo.
Exemplo 5: Gestão de dívidas
A gestão de dívidas é uma parte crucial da construção de patrimônio.
Saber diferenciar entre dívidas boas (como um financiamento imobiliário) e dívidas ruins (como dívidas de cartão de crédito) é essencial.
Quatro passos do Método Feynman:
1. Escolha de um tópico: Gestão de dívidas.
2. Explicação simples: Pense nas dívidas como sementes. Algumas sementes crescem e produzem frutos, como um empréstimo para comprar uma casa que pode valorizar. Outras, no entanto, sugam recursos sem retorno, como dívidas de cartões de crédito que acumulam juros altos.
3. Identificação de lacunas: Ao analisar suas dívidas, identifique onde você pode não entender completamente os impactos das taxas de juros ou das condições de pagamento mínimo. O Método Feynman ajuda a destacar essas lacunas para que você possa tomar decisões mais informadas.
4. Revisão e simplificação: Crie um plano simples para gerenciar suas dívidas, priorizando a eliminação das dívidas com juros mais altos primeiro. Por exemplo, se você tem várias dívidas, concentre-se em pagar aquela com a taxa de juros mais alta, enquanto faz pagamentos mínimos nas outras.
A conclusão de Feynman para você…
O Método Feynman destaca-se não apenas pela sua simplicidade, mas pela sua eficiência em transformar o aprendizado em uma ferramenta de produtividade.
Através de exemplos práticos, ficou evidente que esse método não apenas facilita a compreensão, mas também promove a aplicação prática do conhecimento, o que é fundamental para alcançar o sucesso financeiro.
Comece a utilizar esse método para abordar os tópicos que mais impactam sua vida financeira.
Simplifique, ensine a si mesmo, identifique lacunas no seu conhecimento e revise até que você possa aplicar o que aprendeu com confiança.
Como Richard Feynman provou ao longo de sua vida, o que você consegue ensinar, você realmente entende — e aquilo que você entende profundamente se torna uma poderosa ferramenta para a realização dos seus objetivos.
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