O Dia dos Pais que não dá pra voltar

Vida & Lucros | Edição #072

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Hoje é Dia dos Pais, e eu queria falar de um pai que já não tá aqui — e de uma mãe que foi “pãe” a vida inteira.

Meu pai nasceu em 22 de março de 1956 e morreu em 26 de maio de 2011, aos 55 anos. Eu tinha 25 anos quando recebi a notícia. De lá pra cá, já se passaram mais de 14 anos. Hoje, aos 39, percebo que já vivi a maior parte da minha vida adulta sem ele. É estranho pensar nisso, porque a imagem que guardo do meu pai é feita de recortes: alguns momentos nítidos, outros meio apagados pelo tempo. Mas todos, bons ou ruins, fazem parte de quem ele foi na minha vida. Quando olho pro calendário, 14 anos parece muito tempo. Quando penso nele, parece ontem.

Meus pais se separaram quando eu tinha 4 anos. Eu e minha irmã crescemos, na prática, sendo muito bem criados pela minha mãe. Ele tentava seguir por perto, marcando presença nas nossas vidas. Quando me mudei de Guarulhos pra Curitiba, com uns 9 anos, algum tempo depois ele também foi pra lá. Gosto de pensar que foi pra ficar mais perto dos filhos.

Meus pais segurando minha irmã e eu no colo, em meados de 1993 ou 1994.

Tenho cenas que não saem da memória. Ele me buscava na escola e a gente ia direto pro campo de futebol, onde ele jogava bola com os amigos. Em várias sextas-feiras, me pegava e seguíamos rumo a Ubatuba, litoral de São Paulo. Chegava o fim de semana, vinha o samba. Ele amava samba, arranhava na percussão, conhecia as rodas e os músicos. Foi ele quem me apresentou esse mundo — o barulho do pandeiro, o surdo marcando o tempo, a alegria simples que a música acende. Até hoje, quando ouço um bom samba, sinto cheiro de maresia.

Houve tentativas de aproximação que mexem comigo até hoje. Lembro de algumas vezes encontrar meu pai no ônibus, tarde da noite. Eu voltando do cursinho pré-vestibular, ele voltando do trabalho. A gente ia conversando por alguns minutos até o meu ponto final, como quem tenta recuperar um pedaço de vida no caminho de volta. Ele sempre perguntava se eu precisava de dinheiro. Eu dizia que não. Mesmo assim, tirava do bolso o que tivesse: 5, 10, 20 reais. Era pouco, mas era dele e eu sabia que faria falta. Era cuidado. Aquilo me marcou. Eu também carregava minhas mágoas, minhas confusões de filho. Faz parte. Relação real é feita dessas curvas.

Em 2007, quando passei no vestibular de Zootecnia na Federal do Paraná, ele mandou fazer uma faixa e pendurar no portão da minha casa: “Não basta ser fera, tem que ser Zoo.” Foi simples, foi brega, foi perfeito. Um jeito de dizer “tô orgulhoso de você” que não deixava dúvidas.

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O fim veio no Hospital das Clínicas, em Curitiba. Ele tava na UTI. Eu e minha irmã nos revezávamos nas visitas diárias. Nos últimos dias, a fala ficou difícil por causa da traqueostomia, então levei um caderno pra ele escrever o que queria me dizer. Era corinthiano roxo. Consegui, meio a contragosto da direção do hospital, instalar uma TV no quarto pra ele assistir aos jogos do timão. Pequena vitória no meio do aperto.

No dia em que ele partiu, era a minha vez de visita. A porta abriu pros familiares, o médico pediu pra eu esperar. Disse que precisava falar comigo. Ali eu já soube. Logo veio a confirmação: parada respiratória, não conseguiram reanimar. Infelizmente, não me deixaram entrar para me despedir do meu pai naquele dia. Me lembro de descer as rampas do hospital grogue, desnorteado, baqueado. Eu sabia que esse dia chegaria em breve, mas a verdade é que a gente nunca tá preparado. Eu, pelo menos, não tava. A cena é curta, mas pesada. Some, volta, some, volta, mas aprendi a conviver.

Ele morreu morando sozinho, numa casa velha. Isso me dói. Sinto que poderia ter feito mais. Se pudesse voltar no tempo, teria cuidado mais, visitado mais, ajudado mais. Queria pedir desculpa por não ter feito. Sinto pena dele, e também gratidão pelo que ficou: o ônibus tarde da noite, a nota de R$ 20 amassada na palma da mão, a faixa no portão, o sorriso no samba.

E aqui entra quem segurou tudo enquanto a vida acontecia do jeito que deu: minha mãe.
Ela foi “pãe” desde sempre. Trabalhou, cuidou, cobrou, protegeu, encorajou. Ensinou o que é presença, o que é caráter, o que é responsabilidade. Havia dia que faltava dinheiro, mas não faltava força. Havia cansaço, mas não faltava direção. Se hoje eu caminho do jeito que caminho, muito disso tá fincado no que ela construiu com as próprias mãos, sem manual, sem folga, sem público aplaudindo. Minha mãe me deu asas com os pés no chão. E fez isso por mim e pela minha irmã, todos os dias, por anos, sem pedir crédito. Mãe que vira “pãe” é arquitetura silenciosa de uma casa que não cai.

Penso muito nisso agora que tenho 39 anos e sonho em ser pai. Quero estar inteiro: corpo em dia, cabeça alinhada, vida financeira organizada, tempo reservado pra viver junto. Quero que meus filhos me vejam e saibam: podem contar comigo. Não só com o provedor, mas com o cara que educa, que dá limites, que joga bola, que ouve, que aparece, que ensina a gostar de música, que bota a mão no ombro e diz “tô aqui”.

Quero deixar um pedido pra quem ainda tem o pai por perto: aproveita.
Liga hoje. Marca um almoço. Passa lá sem avisar. Puxa uma conversa que ficou pela metade. Tira a tarde pra ouvir histórias repetidas — elas nunca são iguais quando a gente sabe que o tempo corre. Se houver um nó antigo, tenta desatar. Se houver espaço pra perdoar, perdoa. Todos erramos, de um jeito ou de outro. E o perdão, quando chega, resolve dois corações ao mesmo tempo.

Pra quem não tem mais, fica o convite de outro tipo: guarda as partes boas na frente da prateleira da memória. Elas não consertam tudo, mas dão um lugar pra alma descansar. E honrar quem foi embora tem muito a ver com cuidar bem de quem ficou, e com ser, amanhã, o tipo de pai ou mãe que a gente gostaria de ter tido por mais tempo.

Hoje é Dia dos Pais. Se o seu tá aí, não adia. Se não está, que a saudade te leve pra perto do que vale a pena. E que as mães que foram “pães” recebam, hoje, um pedaço da homenagem que sempre mereceram. Porque foi no colo delas que muita família ficou de pé.

Até a próxima,

Gus

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