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Fazia dez anos que eu não pisava no Rio de Janeiro.

Voltar aqui agora, depois de tanto tempo, já seria especial por si só, mas o que aconteceu foi algo ainda mais simbólico: minha primeira vez no Maracanã foi logo num Fla-Flu.

Um estádio pulsando com quase 70 mil pessoas… um clássico histórico.

O Nense precisava vencer pra continuar sonhando com a vaga na Libertadores.

O Mengão defendia a liderança da tabela do Brasileirão.

E eu ali, vivendo algo que um Gustavo mais jovem jamais imaginaria.

Deu Fluminense, 2×1.

No mesmo dia, depois do Fla-Flu, ainda tive o presente de assistir ao Grupo Revelação de perto, de forma intimista, num barzinho da Lapa.

É o tipo de experiência que, pra quem mora longe do eixo Rio–São Paulo, parece distante e cara.

Foi como revisitar a trilha sonora de fases importantes da minha vida.

E, entre um compromisso e outro — já que vim ao Rio a trabalho, não de férias —, tentei aproveitar também um pouco do que a cidade oferece: praia, bondinho, mureta da Urca, café da manhã no Forte de Copacabana, aquele pôr do sol diferenciado da tarde carioca.

Só que, apesar de tudo isso, senti que há algo desalinhado dentro de mim.

Enquanto o corpo estava aqui, presente, a mente parece operar em outra frequência.

É como se eu estivesse vivendo duas realidades paralelas: uma cheia de beleza, música, sol e movimento, e outra carregada de preocupação, autocobrança e uma sensação persistente de que algo importante está muito fora do lugar.

Em vez de simplesmente conseguir estar no momento, eu me vejo o tempo todo sendo puxado de volta pra tensões profissionais, notícias difíceis, perdas inesperadas de grandes clientes pra concorrência por “leilão de taxa” em pleno fim de semestre (arrebentando com as minhas metas), mercado financeiro estressado levando à quebra de empresas e instituições financeiras por problemas de gestão e/ou fraude — e carregando consigo o patrimônio de investidores com o default de seus produtos de investimento — e a pressão que só quem lidera pessoas e patrimônio sabe explicar.

Por fora, tudo parece tranquilo.

Por dentro, rebuliço.

Essa distância entre o que acontece no mundo externo e o que se passa dentro da gente cria uma espécie de ruído constante.

Você tenta aproveitar, mas tem a impressão de que está sempre devendo algo.

Tenta desligar, mas a cabeça não acompanha.

Olha pro mar, mas sente que há uma tempestade interna que não se aquieta só porque você mudou de cidade.

E então comecei a perceber que o problema não é apenas o trabalho em si, o mercado mais volátil e a pressão natural de final de ano.

O problema é a soma silenciosa de pequenas coisas que eu venho negligenciando: rotina, espiritualidade, descanso, limites, prospecção ativa, presença, foco, silêncio interno.

Foi aos poucos, mas, quando me dei conta, o efeito acumulado estava ali, cobrando seu pedágio.

Essa percepção ficou ainda mais evidente quando li uma mensagem no grupo da empresa falando sobre postura, disciplina, presença e padrão de liderança.

Mesmo sabendo que não era algo direcionado pessoalmente a mim, aquilo me atravessou de forma desproporcional.

A interpretação muda quando estamos cansados demais pra filtrar.

Aqui, no meio do Rio, me caiu a ficha de que eu deixei minha vida espiritual de lado.

Aquela pequena rotina que tanto amo, de silêncio, reflexão, conexão com Deus, oração e meditação, evita que o mundo me engula e me organiza por dentro.

Quando isso some, a vida profissional vira uma roleta, as emoções ficam à deriva e decisões simples passam a parecer montanhas.

Há tempos que eu venho operando só na força bruta.

Só no racional, no desempenho, na agenda cheia, na obrigação, na cobrança, na urgência.

E existe um limite pra viver assim.

Uma hora, o corpo, a mente e a vida cobram.

Percebi também outra verdade bem desconfortável de admitir: eu perdi tração e constância naquilo que sempre sustentou minha força comercial.

Prospectar, conversar, abrir portas, buscar oportunidades, ser ativo, tudo isso faz parte da minha identidade profissional.

E, por uma série de motivos, fui me afastando disso.

Passei a ser muito mais gestor interno do que estrategista externo.

Mais analítico do que agressivo.

Mais reativo do que protagonista.

Mais impaciente comigo e com os outros.

Não é preciso entrar em detalhes para entender o impacto disso.

Só digo que, quando você para de plantar, você para de colher.

E quando o campo fica tempo demais sem sementes, não adianta culpar o clima.

Tudo isso me trouxe a um ponto de inflexão.

Ou eu reorganizo minha vida por completo, ou continuarei sendo engolido por um ritmo que eu mesmo deixei escapar do controle.

Essa é uma decisão que surgiu do esgotamento e da maturidade necessária pra perceber que não dá mais para continuar operando como antes.

Recomeçar, para mim, significa recuperar peças que deixei cair pelo caminho.

Retomar minha vida espiritual pra voltar a ter eixo e clareza.

Retomar minha rotina de saúde pra que minha mente e meu corpo voltem a funcionar como devem.

Retomar a prospecção como fundamento, não como emergência pra apagar incêndio.

Retomar o hábito de guardar energia, foco e até dinheiro, porque tudo isso faz parte de cuidar de si mesmo.

E retomar o silêncio, que é onde as minhas melhores ideias sempre nasceram e continuam nascendo.

Acho que pela primeira vez em muito tempo, percebi que a vida não estava desmoronando.

Pelo menos não por fatores externos à minha vontade.

Eu é que havia permitido que partes essenciais de mim fossem abandonadas enquanto tentava carregar o resto.

Ao largar o que me sustentava, naturalmente tudo ficou pesado demais.

Não estou escrevendo isso aqui pra dramatizar, nem pra buscar compreensão, nem pra transformar crise em espetáculo.

Escrevo porque sei que muita gente vive isso sem nunca falar.

Porque sei que há quem esteja muito bem financeiramente, profissionalmente e socialmente, mas por dentro esteja estafado, ansioso, desconectado.

Somos todos humanos tentando equilibrar mais coisas do que cabem na mão.

Se existe algo que aprendi nesses dias, refletindo, é que a ordem das prioridades nunca deve ser invertida.

Quando você abandona o espírito, perde o centro.

Se abandona o corpo, perde a energia.

Ao abandonar o silêncio, perde a visão.

Largando a disciplina, perde o rumo.

E quando abandona a si mesmo, perde tudo.

A vida continua, isso é fato, mas continua melhor quando a gente também melhora.

E, para mim, esse “melhorar” começa agora, com a disciplina de quem entendeu o preço de se abandonar e com a coragem de recomeçar do jeito certo, tentando retirar os excessos (que são muitos!) e o barulho.

Se esta edição te encontrou em um momento parecido, talvez ela te sirva como me serviu escrever: um lembrete do que não pode ser deixado pra depois.

De que a vida sempre avisa quando saímos do eixo, primeiro sussurrando, depois falando e depois gritando.

E, se você está ouvindo o grito, saiba que ainda dá tempo de voltar.

Eu estou voltando.

E, se fizer sentido para você, volte também.

Até a próxima,

Gus

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🌿 O que alimenta a minha mente

Gosto de acreditar que o que consumimos molda o que construímos.
Livros, filmes, músicas — tudo o que alimenta a mente e o espírito também influencia nossas escolhas, nosso olhar e a forma como deixamos nossa marca no mundo.
Por isso, compartilho aqui um pouco do que tem me inspirado nos bastidores.

📚 Lendo:

• De volta ao jogo: A história de sucesso, dramas e viradas do BTG Pactual — Ariane Abdallah

  Conheça a trajetória do BTG Pactual, o maior banco de investimentos da América Latina. Com base em mais de uma centena de entrevistas e ampla pesquisa, Ariane Abdallah reconstitui a ascensão do banco e de seus protagonistas. Luiz Cezar Fernandes e André Esteves personificam duas gerações que chegaram ao topo do mercado financeiro e, entre glórias e quedas, sucesso e escândalos, enfrentaram o inferno. Uma narrativa intensa, repleta de poder, ego e ambição.

🎥 Assistindo:

• Reputação corporativa como ativo estratégico, com André Esteves — RepCast

  Como a reputação influencia o valor de uma marca? O que diferencia líderes que constroem negócios duradouros? Neste episódio do RepCast, o Podcast da FSB Holding, o chairman e Senior Partner do BTG Pactual, André Esteves, compartilha lições sobre reputação corporativa, cultura empresarial e gestão reputacional. Ele mostra como consistência, execução e cultura de donos formam a base para o futuro dos negócios e para a reputação de marca.

🎧 Ouvindo:

• MPB de Ontem, de Hoje e de Sempre — Spotify

  Uma trilha afetiva, criada por mim, que atravessa tempos e sentimentos. Dos clássicos que marcam nossa memória às vozes mais contemporâneas que nos lembram que a MPB continua viva, diversa e pulsante. Uma experiência sonora que convida à saudade e à descoberta, perfeita pra acompanhar um café, inspirar um momento de reflexão ou simplesmente permitir que a beleza da música brasileira te envolva, enraizada e atemporal – uma ode sonora à contínua riqueza da MPB.