Renda-se, como eu me rendi

Vida & Lucros | Edição #002

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Clarice Lispector

Sou bacharel em Zootecnia pela Universidade Federal do Paraná. Entrei em 2007, concluí o curso em 2012 e colei grau em 2013. Foi na UFPR que meu gosto por economia, finanças e investimentos começou.

Dia da assinatura do meu diploma de bacharel em zootecnia, na UFPR, em 2012.

Cadeiras como Economia Rural, Comercialização Rural, Planejamento e Administração de Empresas e Elaboração e Avaliação de Projetos me abriram os olhos para um mundo até então desconhecido. Aquilo me fascinava, porque eu poderia aplicar os conhecimentos tanto para meu trabalho quanto para a vida pessoal. Tinha, assim, decidido o caminho profissional que seguiria depois de formado. Porém, entendi que só o conteúdo da faculdade de zootecnia não seria suficiente para que eu me destacasse nessa área.

Como meu curso era em período integral (manhã e tarde), praticamente não sobrava tempo para buscar um trabalho, a não ser estágios dentro da própria universidade em horários alternativos aos das aulas. Então decidi mergulhar de cabeça no ramo que eu havia escolhido e, em 2011, entrei para o curso de Ciências Econômicas na FAE Centro Universitário, no período da noite.

Assim, por dois anos seguidos, meus dias e noites se resumiram a ir de casa para o campus de ciências agrárias da UFPR, e de lá para a FAE, no centro de Curitiba. Concomitantemente, fazia estágios para ajudar a pagar as contas, e foi num desses estágios, no laboratório de bovinocultura de corte da UFPR, que conheci o professor que viria a se tornar meu sócio.

Renda-se, como eu me rendi

Em 2012, último ano de zootecnia e segundo ano de economia, iniciamos a empresa de consultoria agropecuária. Prestávamos assistência técnica e econômico-financeira para fazendas de agricultura e pecuária em todo o Brasil.

Foto de agosto de 2014, na fazenda de um de nossos clientes, em Colíder/MT.

Trabalhei nessa empresa por 6 anos e aprendi muito. Administrar uma companhia, interagir com clientes e colaboradores e elaborar propostas comerciais foram lições valiosas daquela época. Contratar, demitir e vender a mim e à minha empresa também foram aprendizados importantes que me ajudaram a chegar onde estou.

Mas o tempo foi passando e eu fui ficando triste, cansado e desanimado. Eu não acredito em vida pessoal e vida profissional. Acredito que há apenas uma vida. Então, fui me convencendo de que minha vida ali não seria próspera e feliz. Pessoas importantes me ajudaram a perceber o futuro que se formava caso eu não agisse.

Até que me rendi.

Em 2018, decidi sair da empresa.

Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei

Eu estudo sobre investimentos desde 2012 e sempre investi para mim. Com o tempo, fui sendo considerado referência nessa área pela minha família e amigos próximos, que, com frequência, se consultavam comigo atrás de informações sobre Tesouro Direto, ações e fundos imobiliários.

Em 2017, comecei a me interessar por day trade, um tipo de operação na bolsa de valores que começa e termina no mesmo dia. Passei a acordar mais cedo para estudar antes de ir para o trabalho. Estudava na hora do almoço e à noite, depois do expediente.

Eu adorava aquilo. Via uma possibilidade real de ganhar muito dinheiro e escolher se queria continuar trabalhando com consultoria agropecuária. Cheguei a gastar mais de R$ 6 mil em cursos de day trade entre 2017 e 2018.

O fascínio pelo day trade também me ajudou a tomar a decisão de sair da empresa, confesso.

Agora, sem ter que ir mais para o trabalho, teria todo tempo do mundo para me dedicar ao day trade e fazer desse meu ganha pão, alcançando a liberdade financeira e de tempo, trabalhando de qualquer lugar e a qualquer hora.

Era a vida perfeita se desenhando.

Era.

Como não podia ser diferente, as coisas não saíram conforme o planejado e eu comecei a perder bastante dinheiro operando day trade. Era incomum os dias em que eu fazia uma quantia minimamente considerável.

Para se ter uma ideia, a vez em que eu mais fiz dinheiro foi devido a um erro operacional. Iniciei um trade e achei que tinha encerrado, mas não o fiz. Fiquei posicionado o dia todo sem querer e, ao fim da tarde, recebi um e-mail da corretora informando que minha operação havia sido fechada por ela. Meu coração disparou quando li o e-mail, pois achei que tinha perdido muito dinheiro. Quando entrei no home broker, vi que a operação andou a meu favor durante o dia e eu pude, apenas dessa vez, levar uma boa quantia.

Nessa época, minha namorada, que é médica veterinária, tinha acabado de passar no concurso público que era o sonho da vida dela, para ser auditora do Ministério da Agricultura. Ela foi para Marechal Cândido Rondon, cidade no oeste do Paraná, que fica a 7 horas de Curitiba.

Sem um trabalho formal para cumprir horários, eu viajava com certa frequência para Marechal, e enquanto a carreira dela decolava, a minha afundava a passos largos.

Tendo perdido já boa parte de toda a reserva acumulada nos últimos 6 anos em que trabalhei como consultor agropecuário, o desespero, a vergonha e a frustração começavam a bater na minha porta. Lembro de conversar com minha namorada sobre a vontade de me candidatar a uma vaga de trabalho em alguma empresa de Marechal e me mudar definitivamente para lá, para tentar arranjar algum dinheiro. Ela achou aquilo um absurdo, pois sabia que eu tinha potencial para fazer e ser mais.

Minha auto estima estava abalada. Sinto-me obrigado a ser o sustento e protetor da minha família, e a incapacidade de fazê-lo estava me destruindo gradualmente.

Eu morava na casa da minha mãe, e àquela altura eu praticamente já não conseguia nem ajudar com as contas de casa. Me lembro de possuir dois cartões de crédito. Usava um para quitar a fatura do outro por meses, rolando a dívida a um custo de 3% ao mês. Essa era a taxa cobrada pelos cartões para aceitar pagamento de boleto via crédito.

Por vezes, minha sogra e minha namorada me emprestavam dinheiro para que eu conseguisse quitar minhas contas por mais 2 ou 3 meses.

Como você pode ver, fiz o que Warren Buffet chama de "a bola de neve", mas ao contrário, em direção ao fundo do poço.

E assim foi durante 2018, até eu entregar todo meu dinheiro para o mercado. Perdi tudo e estava oficialmente falido. Só me restava colocar o orgulho no bolso, a vergonha entre as pernas e procurar outra fonte de renda.

Eu não sabia o que fazer. A única coisa que eu tinha certeza era que desejava permanecer no mercado financeiro, e bem distante do day trade.

Me considero tímido, mas os seis anos como músico na noite curitibana me deram alguma experiência em me comunicar com o público. Por isso, achei que um trabalho com perfil mais comercial poderia encaixar bem.

Dentre as diversas opções que o mercado financeiro oferece (analista, gestor, consultor, assessor), a que mais me chamou a atenção foi a carreira de assessor de investimentos (à época, Agente Autônomo de Investimentos, ou AAI). Este profissional é responsável por atrair clientes, atendê-los e fornecer produtos de investimento do banco ou corretora a que está vinculado.

Me encontrei ali e decidi que era isso que eu queria fazer!

No início de 2019, comecei a procurar escritórios de investimentos pedindo uma chance de ser entrevistado. Naquela época, haviam relativamente poucos em Curitiba, se comparado a hoje. Consegui entrevistas em 2 ou 3 escritórios, que não me aceitaram por não ter ainda a certificação e a experiência necessária.

Em uma ocasião, enquanto procurava por assessores de investimento e proprietários de escritórios no LinkedIn para networking, me deparei com o perfil do diretor de expansão do BTG Pactual. Enviei uma mensagem a ele pedindo uma oportunidade. Deixei claro que não era nem nunca tinha sido assessor, que não tinha experiência na área e muito menos uma carteira de clientes. Mas tinha a vontade e a necessidade de que aquilo desse certo.

Após alguns dias ele me respondeu, dizendo que passaria meu contato para um dos sócios do escritório de Curitiba. No dia seguinte, o sócio me ligou e conversamos por 40 minutos. Ao fim da conversa, ele disse que passaria meu contato para o CEO da empresa, e que se ele também gostasse do meu perfil, marcaríamos uma entrevista. Conversei por telefone com o CEO e agendamos uma entrevista presencial para o dia 10/04/2019.

Eu estava em Marechal Cândido Rondon nessa época, e tive que voltar para Curitiba para a entrevista. O próximo passo era arranjar um terno. Sem dinheiro para comprar um, aluguei por R$ 300,00 e consegui que a loja parcelasse esse valor em 5 vezes.

Foto que tirei para a minha namorada, no dia da entrevista na Cordier, em 10/04/2019.

Fui para a entrevista e, após alguns dias, recebi a ligação dizendo que eu havia sido admitido para fazer parte do time de assessores. Foi um dos dias mais felizes da minha vida.

No dia 22/04/2019, iniciei minha jornada como assessor na Cordier Investimentos.

Foto da vista do icônico trade floor, na minha primeira visita ao Banco BTG Pactual, em São Paulo, em 25/06/2019.

Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento

Sem um salário fixo, os primeiros meses de profissão foram muito difíceis. Por não ter carro, eu precisava pegar quatro ônibus para ir e quatro para voltar do escritório. A viagem demorava uma hora e meia.

A profissão de assessor de investimentos se baseia em captar clientes. Como meu relacionamento com possíveis clientes alta renda era praticamente zero, minha única fonte de prospecção era por meio do chamado cold call, ou chamada fria. Ela consiste em fazer ligações para pessoas ou empresas buscando agendar uma primeira reunião, sem conhecê-las e sem que elas estejam esperando sua ligação.

Por muito tempo, foi só o que fiz.

Eu era sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Como tomava muitos "nãos" nos primeiros contatos, criei uma metodologia que me permitisse estar na cabeça de quem não me abriu as portas naquele momento. Eu sabia que, em algum momento, essa pessoa precisaria do que eu ofereço e, quando isso acontecesse, ela deveria se lembrar de me procurar.

Mesmo me dedicando ao máximo e sendo muito organizado, as coisas não iam bem. Eu agendava muitas reuniões, mas não fechava nada. Passei pela síndrome do impostor e pensei várias vezes em desistir da profissão. Só não desisti por causa da minha namorada (hoje minha esposa), que segurou as pontas e foi meu suporte, minha força e minha base quando mais precisei.

Essa edição da newsletter é, inclusive, uma homenagem a ela, que fez tudo ser possível e se tornar realidade para nós.

Após 18 meses, eu ainda tinha uma carteira muito pequena, de menos de R$ 5 milhões. Para um assessor que recebia apenas por comissão, esse valor é praticamente irrelevante e não paga sequer o transporte e alimentação diária. Eu pagava para trabalhar.

Mas, como comentei, não desisti. Queimei a ponte e não tinha plano B. Aliás, tinha sim. Meu plano B era fazer o plano A dar certo de qualquer forma.

Até que, depois de um ano e meio, o cenário começou a mudar drasticamente. Pessoas e empresas com quem eu havia falado há meses e que fecharam a porta para mim da primeira vez, voltaram a me procurar. Passei a receber indicações de clientes. Novos negócios começaram a surgir e, nos seis meses seguintes, minha carteira cresceu 1.500% e encerrei o ano de 2020 com R$ 80 milhões sob assessoria. Ao final de 2021, tinha R$ 120 milhões.

2021 foi também o ano em que assumi o cargo de líder comercial da unidade de Curitiba, e fui convidado à sociedade da empresa. Em 2023, me tornei o assessor com o maior patrimônio sob assessoria da história da Cordier (com exceção dos sócios majoritários).

Atualmente, tenho mais de R$ 300 milhões sob assessoria e lidero a operação da empresa na região sul.

Nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar que Deus seria tão generoso comigo em tão pouco tempo.

Em apenas 5 anos, passei de desempregado e falido a empresário e sócio de um dos principais escritórios de investimentos do país. Fui de endividado a investidor.

Me casei em outubro de 2023 e pude contribuir para a realização da festa dos sonhos da minha esposa.

São tantas bençãos que fica difícil citar todas. Eu poderia elencar dezenas de motivos que me fizeram chegar até aqui. Mas, sem dúvidas, o principal deles foi a necessidade.

Quando não se tem mais alternativas, a única possibilidade é fazer acontecer!

Obrigado por ler até aqui!

Vida & Lucros para todos

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Até a edição #003,

Gus

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